Delhi.
Não esperava ouvir o chamamento da mesquita durante o sono, nem a meio da caminhada no bazar. Não contava com as mulheres vestidas de negro com o véu a cobrir o cabelo e o rosto. Não esperava ser abordada por um adolescente chamado Mohamed. Estas surpresas surgem entre buzinadelas constantes de riquexós e motoretas, no meio de cores intensas em saris, sinaléticas, fruta e paredes de pátios interiores. Tanto se está no pátio de uma mesquita, caminhando tranquilamente de pé descalço, como se sai e dá de caras com uma procissão musicada, barulhenta, extravagante, laranja e amarela, ao deus sol e sua esposa, obviamente hindus. Tanto nos cruzamos com olhares fugidios de mulheres de véu negro ou homens de barba vestidos de branco, como com olhares longos e alegres sorrisos de crianças, mulheres e homens. Enquanto os primeiros não permitem que os fotografe, os segundos não só posam como ainda nos pedem selfies.
Esta dualidade lembra como surgiu o país, a sua história entre conquistas, ocupações e partições absurdamente concebidas, e como se vai safando no entretanto.
Namaste povo bonito, gente generosa, colorida, gente de brio mas que sabe sorrir, brincar. Namaste gente que se banha no mar em gargalhada, que desliza em vez de caminhar, que atravessa a estrada por entre o trânsito que flui, apanha o autocarro ou o comboio à última, baloiçando no primeiro degrau em andamento. Namaste pequenotes de rua e mamãs que nos afligem o nosso peito, habituado ao conforto de um tecto. Namaste mulheres belíssimas, de gestos, tecidos, sorrisos de encantamento. Namaste país enorme e cheio, de contrastes e de beleza imensa, que me deixa um aperto na garganta na partida.
Até uma próxima.